segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Um filme sobre o meio ambiente, preconceito racial e conflitos religiosos


Um filme sobre a espiritualidade, ecologia e conflitos do cotidiano urbano. Jardim das Folhas Sagradas oferece o debate sobre bissexualidade, intolerância religiosa e preconceitos étnicos, ao mesmo tempo em que expõe a intimidade do Candomblé e discute a degradação das áreas verdes nas cidades vitimadas pela especulação imobiliária.
É o resultado de um amplo projeto de pesquisa a respeito da religião afro-brasileira, um olhar revelador da sua intimidade. Parte de um conceito analítico, até crítico, sobre o Candomblé, e revela detalhes de uma crença pouco conhecida além dos círculos da sua existência. É nítida a espiritualidade dos personagens enquanto vivem dramas cotidianos. Aborda, com originalidade, assuntos expostos em O Amuleto de Ogum e Tenda dos Milagres (ambos de Nelson Pereira dos Santos) até Barravento, de Glauber Rocha.
Segundo Pola Ribeiro, uma das metas do filme é trabalhar acerca do mistério que envolve a cidade de Salvador e o Recôncavo baiano, falar da cultura da sua gente negra que, infelizmente, sempre foi vista e tratada com superficialidade. “Cada gesto, cada som, cada traje, comida, conceito e religião. A convivência com um mundo que se protegia nos seus fundamentos e que era ao mesmo tempo tratado como invisível pela mídia e pela sociedade, aguçava os meus sentidos”, afirma o cineasta.
Jardim das Folhas Sagradas traz no elenco excelentes atores baianos, desde nomes conhecidos como João Miguel (Estômago (2007) e Melhor Ator no Festival do Rio 2005 por Cinema, Aspirinas e Urubus  (2005)), aos estreantes no cinema nacional, mas de longa carreira no teatro baiano, a exemplo de Érico Brás (atualmente no quadro fixo do programa Tapas&Beijos, da TV Globo), Harildo Deda e Antônio Godi –  que encarna o protagonista da trama. Temos ainda Evelin Buccheger, Sérgio Guedes e experientes atores do Bando de

Teatro Olodum. A surpresa fica por conta das participações especiais das cantoras Mariene de Castro, debutando enquanto atriz, e Virgínia Rodrigues, tida pelo The New York Times como “uma das mais impressionantes cantoras que surgiu no Brasil nos últimos anos”, numa cena particularmente marcante dentro do filme.

Contradições e conflitos Além de ter um ator negro enquanto protagonista, Jardim das Folhas Sagradas surpreende ao mostrá-lo como um profissional bem sucedido. O ator Antônio Godi vive o bancário Bonfim, casado com Ângela (Evelin Buchegger) –  uma mulher branca e de crença evangélica. Bonfim conserva uma relação homossexual com Castro (João Miguel), mas depois de um acontecimento trágico, bombardeado por sonhos místicos e com a vida de cabeça pra baixo, resolve cumprir uma missão recebida no Candomblé: fundar o terreiro Ilê Axé Opô Ewê (Casa das Folhas Sagradas).
O local é afastado da cidade e apesar de estar em área bastante degradada preserva o contato entre natureza e religião. Porém, a segmentação ecológica enfrenta resistência de setores do próprio Candomblé, já que, segundo a tradição, a maioria das sessões é realizada com o sacrifício de animais – aspecto determinante para que o terreiro permaneça protegido pelos orixás –  e a desobediência a isto traz consequências funestas. Mas é esta a tradição que o moderno terreiro de Bonfim pretende confrontar.
Por meio de diversos conflitos, Bonfim experimentará o sabor do amor e do desprezo, da amizade e da traição, compartilhando o aprendizado da força e sabedoria ancestrais do Candomblé para a superação dos obstáculos, numa Salvador marcada pela expansão e especulação imobiliárias.


O Diretor
Jardim das Folhas Sagradas é o primeiro longa-metragem da carreira de Pola Ribeiro, baiano que há muito atua com artes visuais. Segundo o diretor de cinema Bernard Attal, “A discussão social abordada no filme é comum ao negro de Nova York ao de Paris”. O filme teve première nacional no Festival do Rio 2010, com ótima recepção da classe artística e cinematográfica.
Após a exibição no Festival do Rio, diretor e equipe de Jardim das Folhas Sagradas atenderam ao convite da Fundação Palmares e o longa foi exibido na grade de atrações do seminário Qual a Parte Negra da Mídia?, em 4 de novembro de 2010, em Brasília.
Depois, em fevereiro/2011, participou da Seleção Oficial do Festival Panafricano (FESPACO), em Burkina Faso, país sediado na África e que organiza o maior festival sobre cinema negro no
mundo. Em abril deste ano foi exibido no Festival de Filmes Brasileiros de Los Angeles (EUA), de onde saiu laureado com o Prêmio de Melhor Fotografia (do diretor Antônio Luiz Mendes).
Jardim das Folhas Sagradas conta com o patrocínio da ANCINE, Ministério da Cultura- Governo Federal, Petrobrás, Eletrobrás, BNDS, Chesf, Infraero, Banco do Nordeste e do Governo do Estado da Bahia.

Estreias:

A estreia comercial nos cinemas será nas seguintes etapas:

4/ novembro: Salvador, Feira de Santana (BA), Petrolina (PE), Aracajú (SE),
Fortaleza (CE), João Pessoa (PB) Brasília (DF) e Taguantiga (GO).

15/ novembro: Recife (PE).

25/ novembro: Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS) e Vitória (ES), São Paulo e
                       Guarulhos (SP), e no Rio de Janeiro (RJ).


No blog está disponível a tabela de estreias nas cidades brasileiras. A mesma será atualizada à medida que novas praças definirem contrato de exibição.

Trailer, fotos em alta, ficha técnica e demais informações no site do filme:


Informações à imprensa:

Sandro Santana                                 
sandro_santana@hotmail.com
ascom@jardimdasfolhassagradas.com
71  9653 - 7993     

Studio Brasil
71  3013 - 8764
71  9244 - 3482
tatilrabello@yahoo.com.br    

Assista ao trailer - http://vimeo.com/29973378

domingo, 30 de outubro de 2011

V Caminhada dos Terreiros de Pernambuco


V Caminhada dos Terreiros de Pernambuco
DATA: 04 DE NOVEMBRO (próxima sexta-feira
Local de concentração: Marco Zero (Recife Antigo)
Horário: 15h

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Abertas inscrições para a I Oficina de Povos Tradicionais de Terreiro

Estão abertas as inscrições para selecionar participantes para a I Oficina Nacional de Elaboração de Políticas Públicas de Cultura para Povos Tradicionais de Terreiros. A Chamada Pública foi divulgada hoje, 21 de outubro de 2011, no site do Ministério da Cultura.
A oficina – que acontecerá, de 27 a 30 de novembro, em São Luis, Maranhão – é uma iniciativa da Secretaria de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura e tem como objetivo subsidiar a construção de políticas públicas de cultura para Povos Tradicionais de Terreiros com vistas à proteção, promoção e consolidação de suas tradições, reconhecendo seus ritos, mitologias, simbologias e expressões artístico-culturais.
As inscrições poderão ser realizadas de 22 a 31 de outubro, mediante preenchimento de formulário pelo SALICWEB no endereço: http://sistemas.cultura.gov.br/propostaweb/.
No ato da inscrição, deverão ser anexadas cópias dos seguintes documentos: comprovante de residência, CPF, RG, currículo (ou breve histórico de vida) e carta de indicação da liderança do terreiro ao qual o candidato pertence (quando for o caso de candidatar-se à categoria “Representante de Povos Tradicionais de Terreiros”). A inscrição será validada apenas se forem preenchidos todos os campos solicitados. Os inscritos serão avaliados e selecionados pela Comissão de Organização da Oficina de Elaboração de Políticas Públicas de Cultura para Povos Tradicionais de Terreiros, conforme estabelece a Portaria Nº 28, de 12 de Agosto de 2011, Diário Oficial da União- seção 2.
Chamada Pública (clique aqui)
Tutorial para inscrição (clique aqui)
Inscrições on-line (clique aqui)http://www.cultura.gov.br/culturaviva/abertas-inscricoes-para-a-i-oficina-de-povos-tradicionais-de-terreiro/

sábado, 15 de outubro de 2011

Perseguição e intolerância aos Tambores e às religiões de Matriz Africana


Tambores e objetos sagrados apreendidos nos candomblés de Pernambuco pela polícia em 1938 - Recife PE.
Fotógrafo: Luis Saia

Trecho do artigo: *
A POLÍCIA NO ESTADO NOVO COMBATENDO O CATIMBÓ
Zuleica Dantas Pereira Campos
Profa. Adjunto III do curso de História- UNICAP. Doutora em História do Brasil

A importância dada ao papel da Imprensa se tornou referência na interventoria de Agamenon Magalhães. Ela foi tomada como estratégia fundamental para a construção dos ideais do Estado Novo em Pernambuco. Nesse sentido, era a própria reificação da “verdade”, da legitimidade, do discurso da competência e da sabedoria do Estado.
Essas ideias atingiam o cotidiano da população, imprimiam “valores”, na tentativa de apontar “os males sociais” a serem extirpados. Normas e condutas eram sugeridas à população, até mesmo no tocante ao vestuário. O alvo dessas recomendações eram principalmente as camadas pobres oriundas do campo17.
O jornal Folha da Manhã foi o porta-voz do Interventor. Para tanto, esse veículo de comunicação elegeu como um dos seus temas a problemática social. Dentre eles, receberam particular atenção os adeptos das religiões afro-umbandistas, identificados como casos de polícia.
Como já observamos, esses grupos, desde 1930, para poderem funcionar, eram obrigados a solicitar registro especial dos departamentos de polícia local que fixavam, inclusive, taxas18. Essa medida colocou os praticantes da Umbanda19 e das religiões afro-brasileiras20 numa situação dúbia. Teoricamente, os registros permitiam a prática legal da religião. Por outro lado, aumentavam o controle da polícia, como também a possibilidade de intimidação e extorsão. Solicitava-se às seitas, para efeito de registro, a apresentação do seu regulamento. Uma cópia do regulamento de uma das seitas, em funcionamento no Recife na década de 1930, apresentava as seguintes informações:

ESTATUTO DA SEITA AFRICANA EM ADORAÇÃO A SANTA BARBARA SITUADA A RUA FRANCISCO BERENGER Nº 147, LOGAR ENCRUZILHADA
Apolinário Gomes de Mota, babalorixá da referida seita em adoração aos encantados da Costa da África com os seus regulamentos seguintes:

Temos que oferecer os nossos sacrifícios a todos os encantados da Costa da África de conformidade com as ordens e respeito, conforme o rito da seita.
Temos que foncionar as festas depois dos sacrificios oferecidos
a todos os babarumael.
Não poderão os filhos dos santos ir dansar sem que primeiro
não cumpram com seus deveres.
Ir ao peji fazer o seu adobalê aos pés dos santos, aos pés do seu
babalorixá, aos pés de sua inan e sua mãi pequena e ao Ogan.
Não poderão os filhos de santo tomarem bebidas alcoolicas nem
fumarem na ocasião das festas.
Os filhos de santo na ocasião das manifestações terão o direito a
uma iabá como a uma toalha para enchugar todos aqueles que
estiverem manifestados tendo o cuidado para não deixar nem um cair,
estas resposabilidades caberão a mãi pequena e a todas as ilais.21

O estatuto normatizava, organizava os rituais, como também procurava descrever minuciosamente os direitos e deveres de cada participante. Dessa forma, o regulamento revela uma normatização dos rituais, assim como, as relações de poder entre os praticantes da religião. Como assinala Foucault, o poder deve ser analisado como algo que circula, como algo que funciona em cadeia. Nas suas malhas, os indivíduos não só circulam, mas estão sempre em posição de exercer esse poder e de sofrer sua ação. Nunca são o alvo inerte ou consentivo do poder; são sempre centros de transmissão. O poder não se aplica aos indivíduos, passa por eles22.
A percepção do poder estava configurada nas manifestações organizativas da sociedade, em termos de ação, dominação, carisma, autoridade, disciplina e controle. O poder se esboçava, também, a partir da força física dos aparelhos institucionalizados que faziam valer suas decisões. Nessa forma de coerção, ele produz efeitos na sociedade.
Esses efeitos tornam-se mais visíveis quando o secretário de Segurança Pública do Estado de Pernambuco, Etelvino Lins, expede a Portaria proibindo o funcionamento dos Centros Espíritas, baseando-se na Constituição de 1937, que permitia a liberdade de expressão a todos os brasileiros, mas que coibia as práticas viciosas que corrompem e degradam as pessoas. Justificava que era dever das autoridades combater essas práticas, exercendo, assim, a defesa do Estado e da Sociedade.
Sobre o assunto, José Campello, Redator-Chefe da Folha da Manhã, escreve:
A Secretaria de Segurança baixou uma portaria prohibindo em todo o
território pernambucano o funccionamento de seitas africanas e
gabinetes de “sciencias” herméticas. Já tivemos ocasião de analisar em
nossa secção de comentários o acto do sr. Etelvino Lins, focalizando
alguns dos seus aspectos e das sua conseqüências mais úteis á
collectividade. Mas a medida é de tamanha significação para os
nossos costumes e a hygiene mental da cidade, que não perde o
público por insistirmos no assumpto, adduzidos novos argumentos
áquelles primeiros commentarios23

De acordo com Yvone Maggie, a magia, desde os tempos coloniais, dispõe de mecanismos reguladores das acusações a “bruxos e feiticeiros” nos terreiros e locais de culto. No ntanto, foi a partir da República, com o Decreto de 11 de outubro de 1890, que o Estado criou  mecanismos reguladores do combate aos feitiços, instituindo o Código Penal. Três artigos dizem respeito a esta questão: o artigo 156, que se refere à prática ilegal da Medicina; o artigo 157, que estabelece como crime a prática do Espiritismo, da Magia, da Cartomancia, do uso de talismãs, como também a de subjugar a credulidade pública; e, por fim, o artigo 158, que proíbe a prática do curandeirismo24.
Para a autora, o Estado passou, dessa forma, a intervir nos assuntos da magia no combate aos feiticeiros, regulando acusações, criando juízos especiais e pessoal especializado. À medida que os anos passavam, instituições iam sendo criadas na Polícia, para regular este combate, identificar e punir aqueles que eram considerados produtores de malefícios25. Assim, essa ação já formalizada pelo Estado veio a ser utilizada com mais intensidade em Pernambuco, apoiando-se no Capítulo 2 da Constituição Federal dos Estados Unidos do Brasil. Nele, o artigo 122, parágrafo 4, afirma:
Todos os indivíduos de diferentes confissões religiosas podem exercer
pública e livremente o seu culto, associando-se para esse fim e
adquirindo bens, observadas as disposições do direito comum, as
exigências da ordem pública e dos bons costumes.26
No artigo 141, deste mesmo Capítulo, se encontra:
7º Parágrafo – É inviolável a liberdade de consciência e de crença e
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos, salvo os que
contrariem a ordem pública ou os bons costumes. As associações
religiosas adquirirão personalidade jurídica na forma da lei civil.
8º Parágrafo – Por motivo de convicção religiosa, filosófica ou
política, ninguém será privado de nenhum dos seus direitos, salvo se o
invocar para se eximir de obrigação, encargos ou serviços impostos
pela lei aos brasileiros em geral, ou recusar os que ela estabelecer em
substituição daqueles deveres, a fim de atender escusa de
consciência27.

O combate ao “catimbó” tinha uma justificativa legal. Sendo assim, as instâncias do poder se eximem do que é praticado, mas acabam incorporando a crença. Se existem catimbozeiros, feiticeiros, embusteiros, é porque se acredita nesse tipo de feitiçaria.
Como assinala Foucault, não existe o discurso do poder de um lado e, em face dele, um outro contraposto. Podem existir discursos diferentes e mesmo contraditórios, dentro de uma mesma estratégia; podem, ao contrário, circular, sem mudar de forma, entre estratégias opostas28.
Essas medidas também expressam o pensamento do Interventor Federal e de seu secretariado. Tomando o Catolicismo como religião oficial do Brasil, empenharam-se na tentativa de apagar da sociedade todas aquelas práticas religiosas que “ameaçavam” a doutrina social cristã, propagada na época.
A Folha da Manhã, de propriedade de Agamenon Magalhães, veiculava a doutrina proposta através do processo de “catequização” da sociedade. Os afroumbandistas deveriam ser desconstruídos, marginalizados e, finalmente, silenciados.
Uma estratégia encontrada foi dar visibilidade às ações praticadas pela Polícia.
Tais ações eram divulgadas, pelo jornal, repetidamente, no período de 1938 a 1945. Eram inúmeras as matérias, com o objetivo de doutrinar, educar, alertar a sociedade para o mal dessas práticas, apresentadas como perniciosas e criminosas. Nas matérias de jornal, os afro-umbandistas eram tratados com expressões preconceituosas, como: catimbozeiros, curandeiros, feiticeiros perigosos, exorcistas, embusteiros, exploradores, patifes, covardes sem escrúpulos, malandros, cavadores de vida fácil.
A estratégia de guerra, de combate, aponta para a construção de um clima social em que a Polícia se apresenta com grande eficiência. As manchetes do jornal são reveladoras da construção dessa representação:
“A polícia no 2º districto combate o baixo espiritismo”29
“Combatendo o Catimbó”30
“Guerra aos catimbozeiros”31
“Combate a magia negra: mais um culto devassado pela polícia”32
“Combatendo os feitiços”33
“A Delegacia de Vigilância Combate a baixa magia”34
“Combatendo os exploradores da crendice popular”35
A palavra combate aparece repetidamente e traz, junto a ela, o efeito de sentido pertinente à eficiência da Polícia. O combate é a guerra, a busca do extermínio de elementos e práticas considerados “dissolventes da sociedade”. É um discurso que busca, através da repetição, infundir na opinião pública que a guerra ou o combate travado entre a polícia e os “catimbozeiros” era eficaz. Em outras palavras o “bem” estava vencendo o “mal”.
Nessa guerra estabelecida do “bem contra o mal”, a palavra contra aparece constantemente:
“Contra o baixo espiritismo”36
“Campanha contra catimbozeiros”37
“Contra o espiritismo e a falsa medicina”38
“Contra o espiritismo” 39
“Contra os catimbozeiros”40
“Contra a baixa magia”41
“Diligência contra catimbozeiros”42
“Contra a atividade dos catimbozeiros”43
É possível observar que a polícia é representada como estando numa campanha das mais intensas. A palavra contra funciona numa relação de força, ou seja: a ordem contra a desordem, a lei contra o crime, o Estado contra o catimbó. Nesses dizeres, a palavra contra também se remete a um outro efeito de sentido: a situação está sob controle, porque estamos diante de um aparato policial forte e determinado que controla, reprimindo as forças contrárias.
Diante das constantes manchetes que anunciavam o “combate”, a guerra, “contra” os catimbozeiros, a palavra “repressão” foi pouco utilizada pelo jornal:
“Repressão aos Catimbozeiros”44
“Repressão ao baixo espiritismo”45
A segunda manchete é apresentada quatro vezes. Nesse sentido, de 1937 a 1945, período em que estudamos as matérias do jornal, a palavra “repressão” apareceu apenas cinco vezes nas manchetes referentes à pratica da Polícia com relação aos afroumbandistas.
Portanto, nesse caso, era necessário incutir na população muito mais um clima de guerra, de combate, que, propriamente, de repressão. Era importante, nesse processo de desconstrução, que ficasse claro: ali se estabelecia uma guerra contra bandidos. E a polícia representava não só o aparato estatal mas também os heróis, os protetores dos cidadãos de bem.
A estrutura dos relatos no jornal é sempre a mesma, quer seja o acusado incriminado por prática ilegal da Medicina, falso Espiritismo ou Curandeirismo, pois a acusação sempre se refere a práticas vistas como capazes de produzir malefícios ou à prática da mistificação:
Foram presos de ordem do Comissario Maranhão, as catimboseiras
Francelina Pereira da Silva, Isabel Pereira do Nascimento, Leonor
Pereira da Silva na ilha de Nictheroy em Afogados.
Tambem foi presa a rua Amador Araujo 95, Areias, a mulher Anna
Alves de Oliveira, vulgo "caboclinha" quando exercia a baixa magia
tendo se "manifestado" perante os investigadores 22 e 49. A policia
apprehendeu cartas, bilhetes, bloco para receitas, receituarios, etc.
etc.46
A polícia, ao divulgar a prisão de acusados por crime de catimbó, sempre repete de quem foi a ordem. No caso das “catimbozeiras” acima citadas, de ordem do comissário Maranhão. A maior parte das matérias são finalizadas, dizendo “A polícia apreendeu”, e aí vem citado, minuciosamente, todo o material apreendido. O leitor do jornal deverá acreditar que os acusados são culpados, pois as provas do crime estão materializadas nos objetos. A arma do crime, no caso, é o próprio crime: a prática ilegal do catimbó materializada nos objetos apreendidos.

17 Cf. ALMEIDA,M.G. A. A. op. cit.,1995.
18Cf. BROWN, D. Umbanda Religion and Politics in Urban Brasil. Michigan: Um Research Press,
1986.
19 Religião formada no Brasil por uma seleção de valores doutrinários e rituais, feitos a partir da fusão dos
cultos africanos, com a pajelança (ritual indígena) sofrendo ainda influências do catolicismo e do
espiritismo.
CACCIATORE, O. G. UMBANDA. In:_______. DICIONÁRIO de Cultos Afro-Brasileiros. 3. ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária,1988. pp.242-143.
20 Religiões de origem africana, reinterpretadas no Brasil pelos escravos e pelos seus descendentes. In:
RIBEIRO, R. Cultos Afro-Brasileiros do Recife: Um Estudo de Ajustamento Social. Recife:
IJNPS,1952.
21 FERNANDES, G. Xangôs do Nordeste: Investigação sobre os cultos negro-fetichistas do Recife.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1937. p. 23-24.
22 FOUCAULT, M. op. cit., 1997. p. 183.
23 CAMPELLO, J. Xangôs. Folha da Manhã, Recife, 27 jan. 1938, p. 3. Edição Matutina.
24 MAGGIE, Y. Medo do Feitiço: relações entre magia e poder no Brasil. Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 1992. p. 22.
25 Idem Ibdem. p.23.
26 BRASIL. Constituição (1937) Constituição Federal dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1946. p. 38.
27 Idem. p. 38.
28 FOUCAULT, M. op. cit., 1997.
29 Folha da Manhã, Recife, 28 out. 1937. p. 06. Secção O Dia Policial. Edição Matutina.
30 Folha da Manhã, Recife, 10 jul. 1938. p. 08. Edição Matutina.
31 Folha da Manhã, Recife, 18 set.1938. p. 10. Edição Matutina.
32 Folha da Manhã, Recife, 14 mar. 1939. p. 12. Edição Matutina.
33 Folha da Manhã, Recife, 20 mar. 1939. p. 12. Edição Matutina.
34 Folha da Manhã, Recife, 24 out. 1940. p. 05. Edição Matutina.
35 Folha da Manhã, Recife, 10 abr. 1943. p.07. Edição Matutina.
36 Folha da Manhã, Recife, 08 mai. 1938. p. 08. Edição Matutina. ; Folha da Manhã, Recife, 06 jul.
1938. p. 08 Edição Matutina.; Folha da Manhã, Recife, 27 jul. 1938. p.12. Edição Matutina.; Folha da
Manhã, Recife, 12 fev. 1939. p. 12. Edição Matutina.
37 Folha da Manhã, Recife, 09 jul. 1938. p. 08. Edição Matutina.
38 Folha da Manhã, Recife, 17 ago. 1938. p. 12. Edição Matutina.
39 Folha da Manhã, Recife, 19 ago. 1938. p. 12. Edição Matutina.
40 Folha da Manhã, Recife, 23 ago. 1938. p. 12. Edição Matutina.
41 Folha da Manhã, Recife, 03 jun. 1939. p. 12. Edição Matutina.
42 Folha da Manhã, Recife, 29 set. 1939. p. 12. Edição Matutina.
43 Folha da Manhã, Recife, 06 nov. 1940. p. 05. Edição Matutina.
44 Folha da Manhã, Recife, 17 out. 1938. p. 06. Edição Matutina.
45 Folha da Manhã, Recife, 09 fev. 1939. p. 12. Edição Matutina. ; Folha da Manhã, Recife, 08 mai.
1943. p.07. Edição Matutina.; Folha da Manhã, Recife, 03 set. 1943. p.07. Edição Matutina.; Folha da
Manhã, Recife, 02 nov. 1943. p. 07. Edição Matutina.
46 Prisão de Catimboseiros. Folha da Manhã, Recife, 03 jul. 1938. p. 08. Secção O Dia Policial. Edição
Matutina.
Revista Brasileira de História das Religiões – Ano I, n. 3, Jan. 2009 - ISSN 1983-2859
Dossiê Tolerância e Intolerância nas manifestações religiosas
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Tambores e objetos sagrados apreendidos nos Candomblés de Pernambuco pela polícia em 1938 - Recife PE.
Fotógrafo: Luis Saia


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http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf2/texto%2016.pdf
http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/missao/fotos_frameset.html

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Heróis de Todo Mundo - Mãe Aninha

Oficina de Povos Tradicionais de Terreiros

De 27 a 30 de novembro ocorreráem São Luis, Maranhão, a I Oficina Nacional de Elaboração de Políticas Públicas de Cultura para Povos Tradicionais de Terreiros. O evento, idealizado pelo Ministério da Cultura, tem o objetivo de subsidiar a construção de políticas culturais para o segmento, com vistas à proteção, promoção e consolidação de suas tradições, reconhecendo seus ritos, mitologias, simbologias e expressões artístico-culturais. Convém ressaltar que o ano de 2011 foi declarado pela ONU como o ano internacional dos povos afrodescendentes.
As inscrições poderão ser realizadas no mês de outubro pelo site do Ministério da Cultura, mediante preenchimento de formulário. No ato da inscrição, deverão ser anexadas cópias dos seguintes documentos: comprovante de residência, CPF, RG, currículo (ou breve histórico de vida) e carta de indicação da liderança do terreiro ao qual o candidato pertence (quando for o caso de candidatar-se à categoria “Representante de Povos Tradicionais de Terreiros”). A inscrição será validada apenas se forem preenchidos todos os campos solicitados. Os inscritos serão avaliados e selecionados pela Comissão Nacional Organizadora.
Serão abertas 140 vagas exclusivas para representantes de Povos Tradicionais de Terreiros, sendo 40 para participantes do Estado do Maranhão e 100 para participantes de outros Estados. Há, ainda, vagas destinadas a Gestores Públicos e Acadêmicos/ Movimentos Sociais/ Entidades Afins, mas apenas os selecionados na categoria Povos Tradicionais de Terreiros terão suas despesas de viagem custeadas pelo Ministério.
A Oficina é uma realização da Secretaria de Cidadania Cultural-SCC/MinC, da Fundação Cultural Palmares (Palmares), do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) da Comissão Nacional de Povos de Terreiros, em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (SECMA), a Secretaria da Igualdade Racial do Maranhão (SEIR/MA)  e a Prefeitura de São Luis (FUNCMA).
Aguardem a publicação da chamada pública e acompanhem as demais novidades pelo site http://www.cultura.gov.br/

http://www.cultura.gov.br/culturaviva/oficina-de-povos-tradicionais-de-terreiros/

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras

Fundação Cultural Palmares lançou 2ª edição do Edital nesta quarta-feira (28)


O auditório Gilberto Freyre, no Palácio da Cultura Gustavo Capanema, localizado na Rua da Imprensa, centro do Rio de Janeiro, foi o palco do lançamento da 2ª edição do Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras, nesta quarta-feira (28). Realizado pela Fundação Cultural Palmares (FCP) em parceria com o Centro de Apoio ao Desenvolvimento Osvaldo dos Santos Neves (Cadon), o prêmio tem como objetivo estimular e incentivar as expressões artísticas de estética negra.
A premiação é dividida em três categorias: artes visuais, dança e teatro. Poderão se inscrever pessoas jurídicas de natureza cultural, com ou sem fins lucrativos, que trabalhem com a temática cultural negra. Serão contemplados 20 projetos, quatro por região do País, inéditos ou não, a serem concretizados em 2012, totalizando assim um investimento de R$1,1 milhões de reais em prêmios.
As inscrições poderão ser feitas, gratuitamente, no período de 10 de outubro a 24 de novembro de 2011 e poderão ser preenchidas diretamente na página do Prêmio: http://www.premioafro.org/.
Prêmio
A edição 2011 do Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras é dedicada às comemorações do Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes. Coordenado pelo Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira (DEP) da FCP, a ação é uma forma de reconhecimento às expressões artísticas e culturais, contribuindo para a continuidade de suas atividades.
A cerimônia de lançamento, promovida pela FCP, reuniu 300 convidados e contaou com uma apresentação cênico-musical da atriz Iléa Ferraz, com uma adaptação especial, para ocasião, de A Botija de Ouro, de Joel Rufino. A cerimônia contou com as presenças do presidente da Fundação Cultural Palmares Eloi Ferreira de Araujo, da presidente do Cadon, Ruth Pinheiro, além de representantes da Petrobras que apóia o prêmio.
Edição de 2010
A primeira edição do Prêmio, realizada em 2010, foi elaborada a partir do contato com os grupos, artistas e companhias, que trabalham com a produção artística de matriz africana, e em atendimento à demanda do Fórum de Performance Negra. Foram contemplados vinte projetos das cinco regiões brasileiras, totalizando mais de R$ 1 milhão de reais em prêmios.
Os projetos inscritos à edição de 2010 serão avaliados por uma comissão de membros indicados, e serão considerados os critérios de excelência artística, histórica e efetiva contribuição artística para a cultura afro-brasileira, pertinência do conteúdo à questão afro-brasileira, qualificação dos profissionais e viabilidade técnica de execução. Após a divulgação dos resultados, será realizada uma cerimônia de premiação para os vinte projetos vencedores.
Confira mais informações
(Texto: Marcos Agostinho, Ascom/MinC)
(Fonte: FCP/MinC)

http://premioafro.org/

Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2011

INSCRIÇÕES ABERTAS ATÉ 3 DE NOVEMBRO DE 2011
Artistas, produtores, associações, cooperativas, companhias, grupos e empresas teatrais de todo o país podem inscrever seus projetos no programa e ganhar prêmios de até R$ 150 mil. O processo seletivo está dividido em duas categorias: A) circulação de espetáculos e B) montagem de espetáculos e/ou manutenção de atividades teatrais de grupos e companhias. Serão contempladas e viabilizadas, ao todo, 111 propostas de trabalho.
Investimento total: R$ 10 milhões
Mais informações:
21 2279-8018

Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2011

Sobre o Edital

INSCRIÇÕES ABERTAS ATÉ 3 DE NOVEMBRO DE 2011
A Funarte vai contemplar 64 projetos de dança, distribuídos pelas cinco regiões do Brasil, com prêmios de até R$ 100 mil. Pessoas físicas e jurídicas podem inscrever suas propostas até o dia 3 de novembro nas seguintes categorias: circulação nacional de espetáculos, atividades artísticas e novos talentos. Cada proponente pode apresentar somente um projeto, com exceção de cooperativas de produtores ou de artistas e associações que abriguem diversos grupos ou companhias. Este edital foi publicado no Diário Oficial da União em 16 de setembro.
Investimento total: R$ 4,5 milhões (inclui aporte financeiro e despesas administrativas)
Mais informações:
(21) 2279 8014